Bem vindo (a), se pretende aceder à totalidade dos assuntos apresentados neste fórum, deverá proceder ao simples registo de utilizador. Se já é nosso membro, basta efectuar o seu Login.

O registo e usufruto deste fórum é livre e inteiramente gratuito, porém, não deixe de consultar as regras de participação. Junte-se a nós!

Obrigado


Participe do fórum, é rápido e fácil

Bem vindo (a), se pretende aceder à totalidade dos assuntos apresentados neste fórum, deverá proceder ao simples registo de utilizador. Se já é nosso membro, basta efectuar o seu Login.

O registo e usufruto deste fórum é livre e inteiramente gratuito, porém, não deixe de consultar as regras de participação. Junte-se a nós!

Obrigado
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Últimos assuntos
» Foto estranhã tirada numa casa no Fundão
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptySex Nov 07, 2014 8:37 pm por Mephisto

» Imagens de Sacrificios e Rituais.
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptySex Ago 15, 2014 1:59 am por J13K$#N

» Os Protocolos dos Sábios de Sião
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptySex Ago 15, 2014 1:32 am por J13K$#N

» A Cura Física e a Cura Espiritual
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptySex Ago 15, 2014 12:29 am por J13K$#N

» Constantine - filme
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptyTer Ago 05, 2014 8:15 pm por J13K$#N

» Clube da Luta (filme)
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptyTer Ago 05, 2014 7:58 pm por J13K$#N

» EXU NA UMBANDA
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptyTer Ago 05, 2014 12:01 am por J13K$#N

» Lúcifer - O Pai Da Mentira.
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptyDom Jul 27, 2014 2:01 am por J13K$#N

» The Matrix Revolutions - filme
O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? EmptySex Jul 25, 2014 12:23 am por J13K$#N

Os membros mais ativos do mês
Nenhum usuário

Visitas

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

3 participantes

Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por lancelot Qui Fev 21, 2013 7:31 pm

"O Novo Testamento, oferece um retrato de Jesus e da sua era que se conforma às necessidades de certos interesses estabelecidos - de certos grupos e indivíduos que tinham, e em certa medida ainda têm, interesse no assunto. E tudo o que pudesse comprometer ou embaraçar estes interesses - como por exemplo o Evangelho "secreto" de Marcos - foi devidamente cortado. Na verdade, foi cortada tanta coisa, que se criou uma espécie de vácuo. Neste vácuo a especulação torna-se justificada e necessária.

Se Jesus era um legítimo pretendente ao trono, é provável que tenha sido apoiado, pelo menos inicialmente, por uma percentagem relativamente pequena da população - a sua família directa da Galileia, certos outros membros da mesma classe social aristocrática, e alguns representantes estrategicamente colocados na Judeia e em Jerusalém. Estes seguidores, embora distintos, dificilmente seriam suficientes para garantir a realização dos seus objectivos - o sucesso da sua pretensão ao trono. Em consequência, ele ver-se-ia obrigado a recrutar um séquito mais substancial, noutras classes sociais .

Como é que se consegue recrutar um séquito de tamanho razoável? Obviamente promulgando uma mensagem calculada para captar a sua fidelidade e apoio. Esta mensagem não teria necessariamente de ser tão cínica como as associadas à política actual. Pelo contrário, pode ter sido promulgada em completa boa fé, com um idealismo perfeitamente nobre e ardente. Mas, apesar de uma orientação distintamente religiosa, o objectivo principal seria o mesmo que o dos políticos actuais - garantir a aderência da população. Jesus promulgou uma mensagem que tentava fazer precisamente isso - oferecer esperança aos oprimidos, aos sofredores, aos destituídos. Em suma, era uma mensagem com uma promessa. Se o leitor moderno ultrapassar as suas ideias pré-concebidas sobre o assunto, conseguirá discernir um mecanismo extraordinariamente similar ao que vemos por todo o lado no mundo dos dias de hoje - um mecanismo através do qual as pessoas são, e sempre foram, reunidas em nome de uma causa comum, e fundidas num instrumento utilizado para derrubar um regime déspota. O cerne da mensagem de Jesus era tanto ético como político. Era dirigida a um segmento particular da população, de acordo com considerações políticas. Pois só entre os oprimidos, os sofredores e os destituídos, ele podia ter esperança de recrutar um séquito de tamanho considerável. Os saduceus, que tinham chegado a acordo com a ocupação romana, estariam tão relutantes em se separar dos seus bens ou em arriscar a sua segurança e estabilidade, como todos os saduceus ao longo da história.

A mensagem de Jesus, tal como aparece nos Evangelhos, não é completamente nova nem completamente única. É provável que ele próprio fosse fariseu, e os seus ensinamentos contêm vários elementos da doutrina farisaica. Tal como os Pergaminhos do Mar Morto atestam, contêm também vários aspectos importantes do pensamento essénio. Mas, embora a mensagem em si mesma não fosse totalmente original, o seu meio de transmissão provavelmente foi. Jesus era sem dúvida um indivíduo extremamente carismático. É perfeitamente possível que tivesse uma certa aptidão para curar e para outros "milagres" do género. Possuía sem dúvida um dom para comunicar as suas ideias através de parábolas evocativas e vívidas - que não exigiam nenhuma educação sofisticada por parte da sua audiência, sendo acessíveis, de certa forma, a toda a população. Além disso, ao contrário dos seus precursores essénios, Jesus não estava obrigado a limitar-se ao anúncio do advento de um Messias. Podia afirmar ser esse Messias. E isto, naturalmente, conferia muito mais autoridade e credibilidade às suas palavras.

É evidente que, na altura da sua entrada triunfante em Jerusalém, Jesus já recrutara um séquito razoável. Mas este séquito seria composto por dois elementos bastante distintos - cujos interesses não eram precisamente os mesmos. Por um lado havia um pequeno núcleo de "iniciados" - família directa, outros membros da nobreza, apoiantes ricos e influentes - cujo objectivo primário era ver o seu candidato instalado no trono. Por outro lado havia uma comitiva muito maior de "pessoas comuns" - os "soldados rasos" do movimento - cujo objectivo principal era ver realizada a mensagem e a promessa que esta continha. É importante reconhecer a distinção entre estas duas facções. O objectivo político de ambas - colocar Jesus no trono - seria o mesmo. Mas as suas motivações eram completamente diferentes.

Quando o empreendimento falhou, como obviamente acabou por suceder, a frágil aliança entre estas duas facções - "adeptos da mensagem" e adeptos da família - ter-se-á desfeito. Confrontada com o colapso e com a ameaça da aniquilação iminente, a família terá colocado as suas prioridades no factor que, desde tempos imemoriais, tem sido de importância suprema para as famílias reais e nobres - a preservação da linhagem a todo o custo e, se necessário, no exílio. Para os "adeptos da mensagem", no entanto, o futuro da família seria irrelevante. Para estes a sobrevivência da linhagem seria secundário. O seu principal objectivo seria a perpetuação e disseminação da mensagem.

O cristianismo, tal como evoluiu durante os primeiros séculos, chegando eventualmente aos dias de hoje, é um produto dos "adeptos da mensagem". O curso da sua expansão e desenvolvimento foi vastamente cartografado por outros estudiosos, não justificando que nos debrucemos aqui sobre a questão. Basta dizer que, com São Paulo, a "mensagem" já começara a assumir uma forma cristalizada e definitiva; e esta forma tornou-se na base sobre a qual foi erigido todo o edifício teológico da Cristandade. Quando os Evangelhos foram compostos, os princípios-base da nova religião estavam já virtualmente completos.

A nova religião era primariamente orientada para uma audiência romana ou romanizada. Assim, o papel de Roma na morte de Jesus foi, necessariamente, branqueado, e a culpa foi transferida para os judeus. Mas esta não foi a única liberdade tomada com os acontecimentos, para os tornar agradáveis para o mundo romano. Pois o mundo romano estava acostumado a desafiar os seus governantes, e César já tinha sido oficialmente integrado como um deus. De forma a poder competir, Jesus - que nunca antes tinha sido classificado como divino por ninguém - tinha de ser também deificado. E assim aconteceu, às mãos de Paulo.

Antes de poder ser disseminada com sucesso - da Palestina para a Síria, a Ásia Menor, a Grécia, o Egipto, Roma e Europa Ocidental -, a nova religião tinha de ser tornada aceitável para pessoas de todas as religiões. E tinha de ser capaz de resistir no confronto contra credos já estabelecidos. O novo deus, em suma, tinha de ser comparável em poder, majestade e repertório de milagres, àqueles que tencionava substituir. Se Jesus queria ganhar uma posição segura no mundo romanizado do seu tempo, tinha forçosamente de se tornar um autêntico deus. Não um Messias no antigo sentido do termo, não um padre-rei, mas Deus encarnado - que, tal como os seus equivalentes sírios, fenícios, egípcios e clássicos, passara pelo mundo dos mortos e pelo Inferno lancinante e emergira, rejuvenescido, com a Primavera. Foi nesta altura que a ideia da Ressurreição começou a assumir uma importância tão crucial, e por uma razão bastante óbvia - colocaria Jesus a par de Tammuz, Adónis, Attis, Osíris e todos os outros deuses mortos e renascidos, que povoavam tanto o mundo como as consciências da época. Foi precisamente por esta mesma razão que se promulgou a teoria da concepção imaculada. E fez-se coincidir o festival da Páscoa - o festival da morte e da ressurreição - com os rituais da Primavera de outros cultos e escolas de mistérios contemporâneos.

Dada a necessidade de disseminar o mito de um deus, a verdadeira família corpórea do "deus", bem como os elementos políticos e dinásticos da sua história, tornar-se-iam supérfluos. Agrilhoados como estavam a uma época e a um local específicos, seriam prejudiciais à sua pretensão à universalidade. Desta forma, para validar esta pretensão à universalidade, todos os elementos políticos e dinásticos foram rigorosamente cortados da biografia de Jesus. Assim, todas as referências aos zelotas e aos essénios, por exemplo, foram também discretamente retiradas. Estas referências seriam, no mínimo, embaraçosas. Não pareceria adequado para um deus estar envolvido numa conspiração dinástica complexa e, em última análise, efémera - principalmente uma conspiração fracassada. No fim, não sobrou nada excepto o que consta dos Evangelhos - um relato de uma simplicidade austera e mítica, que apenas por acaso tem lugar na Palestina ocupada pelos Romanos do século I, mas que decorre primariamente no presente eterno de todos os mitos.

Enquanto a "mensagem" se desenvolvia desta forma, a família e os seus apoiantes não parecem ter estado inactivos. Júlio Africano, escrevendo no século III, relata que os familiares sobreviventes de Jesus acusaram amargamente os governantes herodianos de destruir as genealogias dos nobres judeus, eliminando assim todas as evidências que pudessem desafiar a sua própria pretensão ao trono. E diz-se que estes mesmos familiares "migraram através do mundo", levando consigo certas genealogias que escaparam à destruição dos documentos durante a revolta de 66-74 d.C.299.

Para os propagadores do novo mito, a existência desta família rapidamente se tornaria mais do que uma irrelevância. Tornar-se-ia num potencial embaraço, de proporções assustadoras. Pois esta família - que poderia testemunhar em primeira mão o que acontecera realmente, em termos históricos - constituiria uma perigosa ameaça para o mito. Na verdade, com base no seu conhecimento em primeira mão, a família podia ter rebentado completamente com o mito. Assim, nos primeiros tempos da Cristandade, todas as menções a uma família nobre ou real, a uma linhagem, a ambições políticas ou dinásticas, teria de ser suprimida. E - uma vez que é preciso reconhecer as realidades cínicas da situação - a própria família, que podia trair a nova religião, devia, se possível, ser exterminada. Daí a necessidade do máximo secretismo por parte desta família.

Daí a intolerância dos primeiros padres da Igreja em relação a qualquer desvio da ortodoxia que se esforçavam por impor. E daí também, talvez, uma das origens do anti-semitismo. Na verdade, os "adeptos da mensagem" e propagadores do mito terão prosseguido uma dupla finalidade ao culpar os judeus e exonerar os Romanos. Não terão apenas tornado o mito e a "mensagem" agradáveis para uma audiência romana. Terão também impugnado a credibilidade desta família, uma vez que era uma família judaica. E o sentimento anti-semítico que geraram terá facilitado ainda mais os seus objectivos. Se a família encontrasse refúgio numa comunidade judaica, algures dentro dos limites do Império, a perseguição popular podia, no seu ímpeto, silenciar convenientemente certas testemunhas perigosas.

Ao favorecer as audiências romanas, deificando Jesus e colocando os judeus no papel de bodes expiatórios, a divulgação daquilo que se tornou posteriormente a ortodoxia cristã tinha garantias de sucesso. A posição desta ortodoxia começou a consolidar-se definitivamente no século II, principalmente através de Ireneu, bispo de Lyons por volta de 180 d.C. Provavelmente mais do que qualquer outro padre da Igreja, Ireneu esforçou-se para conferir à teologia cristã uma forma estável e coerente. Conseguiu-o principalmente através de uma volumosa obra, Libros Quinque Adversas Haereses (Cinco Livros contra as Heresias). Nesta obra exaustiva, Ireneu catalogou todos os desvios da ortodoxia e condenou-os de forma veemente. Deplorando a diversidade, afirmou que só podia existir uma igreja válida, fora da qual não existia salvação. Ireneu classifica como herege quem desafiar esta afirmação - uma pessoa a ser expulsa e, se possível, destruída.

Entre as várias formas do cristianismo inicial, foi o gnosticismo que mais incorreu na ira injuriosa de Ireneu. O gnosticismo apoiava-se na experiência pessoal, numa união pessoal com o divino. Para Ireneus isto minava naturalmente a autoridade dos padres e bispos, impedindo assim a tentativa de imporá uniformidade. Em resultado, devotou as suas energias a suprimir o gnosticismo. Para este fim era necessário desencorajar a especulação individual e encorajar uma fé inquestionável em dogmas fixos. Era preciso um sistema teológico, uma estrutura de princípios codificados que não permitissem qualquer interpretação individual.

Em oposição à experiência e gnose pessoal, Ireneu insistia numa única igreja "católica" (ou seja, universal), baseada em fundações e sucessão apostólicas. E, para implementar a criação dessa igreja, Ireneu reconhecia a necessidade de um cânone definitivo - uma lista fixa de escritos autorizados. Assim, compilou este cânone, analisando as obras disponíveis, incluindo algumas, excluindo outras. Ireneu é o primeiro escritor cujo Novo Testamento se conforma, no essencial, àquele que conhecemos hoje.

Estas medidas, claro, não impediram a disseminação das primeiras heresias. Pelo contrário, estas continuaram a florescer. Mas, com Irenaeus, a ortodoxia - o tipo de cristianismo promulgado pelos "adeptos da mensagem" - assumiu uma forma coerente que garantiu a sua sobrevivência e eventual triunfo. Não é excessivo afirmar que Ireneu abriu caminho para o que ocorreu durante e imediatamente após o reinado de Constantino - sob cujos auspícios o Império Romano se tornou, em certa medida, um império cristão.

O papel de Constantino na história e desenvolvimento do cristianismo foi falsificado, mal representado e mal compreendido. A falsa "Doação de Constantino" do século VIII, serviu para confundir ainda mais as questões aos olhos dos escritores subsequentes. Ainda assim, atribui-se frequentemente a Constantino o crédito pela vitória decisiva dos "adeptos da mensagem" - e tal crédito não é inteiramente injustificado. Vimo-nos portanto obrigados a estudá-lo mais atentamente e, de forma a podermos fazê-lo, tivemos de pôr de lado certos dos mais extravagantes e ilusórios feitos que lhe são atribuídos.

De acordo com a tradição posterior da Igreja, Constantino herdara do seu pai uma predisposição favorável em relação ao cristianismo. Na verdade, esta predisposição parece ter sido primariamente uma questão de oportunismo, pois nessa altura os cristãos já eram numerosos e Constantino precisava de toda a ajuda possível contra Maxêncio, seu rival na pretensão ao trono imperial. Em 312 d. C, Maxêncio foi derrotado na Batalha de Ponte Milvius, deixando assim Constantino sem rival na sua pretensão. Imediatamente antes desta batalha crucial, diz-se que Constantino teve uma visão - mais tarde reforçada por um sonho profético - de uma cruz luminosa suspensa no céu.

Supostamente esta teria uma frase inscrita - In Hoc Signo Vinces ("Por este sinal vencerás"). A tradição conta que Constantino, submetendo-se a este portento celestial, ordenou que fosse gravado nos escudos das suas tropas o monograma cristão - a letra grega Chi Rho, as primeiras duas letras da palavra "Christos". Em resultado, a vitória de Constantino sobre Maxêncio em Ponte Milvius passou a representar um triunfo miraculoso do cristianismo sobre o paganismo.

Esta é, então, a tradição popular da Igreja com base na qual se pensa frequentemente em Constantino como tendo "convertido o Império Romano ao cristianismo". Na verdade, contudo, Constantino não fez nada disso. Mas, para decidir exactamente o que ele fez, é preciso examinar mais atentamente as evidências.
Em primeiro lugar a "conversão de Constantino" - se for essa a palavra adequada - não parece ter sido cristã, mas manifestamente pagã. Segundo parece, ele terá tido uma espécie de visão, ou experiência divina, no recinto de um templo pagão do deus gaulês Apoio, em Vosges ou perto de Autun. De acordo com uma testemunha que acompanhava na altura o exército de Constantino, a visão foi do deus-sol - a divindade adorada por certos cultos sob o nome de "Sol Invictus", "o Sol Invencível". Existem evidências de que Constantino, pouco antes da sua visão, fora iniciado num culto a Sol Invictus. Seja como for, o Senado Romano, após a Batalha de Ponte Milvius, erigiu um arco triunfal no Coliseu. De acordo com a inscrição neste arco, a vitória de Constantino fora conseguida "por instigação da Divindade". Mas a divindade em questão não era Jesus. Era Sol Invictus, o deus-sol pagão.

Contrariamente ao que diz a tradição, Constantino não fez do cristianismo a religião oficial de estado de Roma. A religião de estado de Roma sob o governo de Constantino era, de facto, a adoração pagã do sol; e Constantino, toda a sua vida, agiu como principal sacerdote deste culto. Na verdade chamou-se ao seu reinado "império do sol" e Sol Invictus figurava em todo o lado - inclusive nos estandartes imperiais e na moeda do reino. A imagem de Constantino como fervoroso convertido ao cristianismo está claramente errada. Ele próprio só foi baptizado em 337 - quando jazia no seu leito de morte, aparentemente demasiado fraco ou apático para protestar.

Nem lhe pode ser atribuído crédito pelo monograma Chi Rho. Foi encontrada uma inscrição com este monograma num túmulo em Pompeia, datando de dois séculos e meio antes. O culto a Sol Invictus era de origem síria e fora imposto pelos imperadores romanos aos seus súbditos um século antes de Constantino. Embora contivesse elementos da adoração a Baal e Astarte, era essencialmente monoteísta. Na verdade, postulava o deus-sol como soma de todos os atributos, de todos os outros deuses, subsumindo assim pacificamente os seus potenciais rivais. Além disso, harmonizava-se de forma conveniente com o culto de Mitras - que também prevalecia em Roma e no Império na altura, e que também envolvia a adoração do sol.

Para Constantino, o culto de Sol Invictus era, muito simplesmente, conveniente. O objectivo primário do Imperador, na verdade quase uma obsessão, era a unidade - unidade na política, na religião e no território. Um culto, ou religião estatal, que incluía todos os outros cultos, ajudava sem dúvida este objectivo. E foi sob os auspícios de Sol Invictus que o cristianismo consolidou a sua posição.
A ortodoxia cristã tinha muito em comum com o culto de Sol Invictus; assim pôde florescer em paz sob o manto de tolerância deste culto. O culto de Sol Invictus, sendo essencialmente monoteísta, abriu caminho ao monoteísmo do cristianismo. E o culto de Sol Invictus era também conveniente noutros aspectos - aspectos que ao mesmo tempo modificaram e facilitaram a divulgação do cristianismo. Por exemplo, num édito promulgado em 321 d. C, Constantino ordenou que os tribunais da lei fechassem no "venerável dia do sol", decretando que este devia ser dia de descanso. A Cristandade tinha até então considerado sagrado o Sabbath Judaico - sábado. Nesta altura, de acordo com o édito de Constantino, transferiu o seu dia sagrado para o domingo. Isto não só harmonizou o cristianismo com o regime existente, como permitiu também dissociá-lo ainda mais das suas origens judaicas. Além do mais, até ao século IV, o aniversário de Jesus fora celebrado no dia 6 de Janeiro. No entanto, para o culto de Sol Invictus, o dia crucial do ano era 25 de Dezembro - o festival de Natalis Invictus, o nascimento (ou renascimento) do sol, quando os dias começavam a crescer. Também neste aspecto o cristianismo se conformou ao regime e à religião estatal estabelecida.

O culto de Sol Invictus engrenava alegremente com o de Mitras - de tal forma, na verdade, que ambos são muitas vezes confundidos. Ambos enfatizavam o estatuto do sol. Ambos consideravam o domingo sagrado. Ambos celebravam um importante festival de nascimento no dia 25 de Dezembro. Em resultado, o cristianismo encontrava também pontos de convergência com o mitraísmo - ainda mais porque o mitraísmo sublinhava a imortalidade da alma, um julgamento futuro e a ressurreição dos mortos.

No interesse da unidade, Constantino decidiu deliberadamente confundiras distinções entre cristianismo, mitraísmo e Sol Invictus - escolhendo deliberadamente não ver qualquer contradição entre eles. Assim tolerava o Jesus deificado como a manifestação terrena de Sol Invictus. Assim viria a construir uma igreja cristã e, ao mesmo tempo, estátuas da Deusa-Mãe Cybele e de Sol Invictus, o deus-sol - este último uma imagem de si próprio, com as suas feições. Em tais gestos eclécticos e ecuménicos, podemos ver novamente a ênfase atribuída à unidade. A fé, em suma, era para Constantino uma questão política; e qualquer fé que conduzisse à unidade era tratada com indulgência.

Embora Constantino não tenha sido, portanto, o "bom cristão" que a tradição posterior retrata, ele consolidou ainda assim, em nome da unidade e da uniformidade, o estatuto da ortodoxia cristã. Em 325 d. C, por exemplo, reuniu o Concílio de Niceia. Neste Concílio foi estabelecida a data da Páscoa. Foram enquadradas regras que definiam a autoridade dos bispos, abrindo assim o caminho para uma concentração do poder em mãos eclesiásticas. Mais importante, o Concílio de Niceia decidiu, por votação, que Jesus era um deus, e não um profeta mortal. No entanto, mais uma vez, é preciso sublinhar que a principal consideração de Constantino não era a devoção, mas a unidade e a conveniência. Como deus, Jesus podia ser convenientemente associado com Sol Invictus. Como profeta mortal seria mais difícil de acomodar. Em suma, a ortodoxia cristã conformou-se a uma fusão politicamente desejável com a religião estatal oficial; e, nesta medida, Constantino conferiu o seu apoio à ortodoxia cristã.

Assim, um ano depois do Concílio de Niceia, sancionou o confisco e destruição de todas as obras que desafiassem os ensinamentos ortodoxos - obras de autores pagãos que se referiam a Jesus, assim como obras de cristãos "hereges". Instituiu também um rendimento fixo a ser atribuído à Igreja e instalou o bispo de Roma no Palácio Lateran. Depois, em 331 d. C, encomendou e financiou novas cópias da Bíblia. Este constituiu um dos factores mais decisivos da história da Cristandade, e proporcionou à ortodoxia cristã - os "adeptos da mensagem" - uma oportunidade sem paralelo.

Em 303 d. C, um quarto de século antes, o Imperador pagão Diocleciano levara a cabo a destruição de todos os escritos cristãos que fosse possível encontrar. Em resultado, os documentos cristãos - especialmente em Roma - praticamente desapareceram. Quando Constantino encomendou novas versões destes documentos, isso permitiu aos guardiães da ortodoxia rever, editar e reescrever o seu material como muito bem entenderam, de acordo com os seus princípios. Terá sido nesta altura que provavelmente foi feita a grande maioria das alterações cruciais ao Novo Testamento, e foi a partir daqui que Jesus assumiu o estatuto de que goza desde então. A importância da encomenda de Constantino não deve ser subestimada. Das cinco mil versões iniciais manuscritas da Bíblia, ainda existentes, nenhuma edição completa é anterior ao século IV.

O Novo Testamento, tal como existe hoje, é essencialmente um produto dos editores e escritores do século IV- guardiães da ortodoxia, "adeptos da mensagem", com interesses estabelecidos para proteger.

Depois de Constantino, o percurso da ortodoxia cristã é bastante familiar e está bem documentado. Escusado será dizer que culminou no triunfo final dos "adeptos da mensagem". Mas, se a "mensagem" se estabeleceu como princípio governante e orientador da civilização ocidental, ela não permaneceu contudo totalmente inalterada.

Mesmo do seu exílio incógnito, as reivindicações e a mera existência da família parecem ter exercido um apelo poderoso - um apelo que, mais frequentemente do que seria desejável, constituía uma ameaça para a ortodoxia de Roma.

A ortodoxia romana apoia-se essencialmente nos livros do Novo Testamento. Mas o Novo Testamento em si mesmo é apenas uma selecção de antigos documentos cristãos, datada do século IV. Existem muitas outras obras anteriores ao Novo Testamento na sua forma actual, algumas das quais lançam uma luz significativa, e muitas vezes controversa, sobre as narrativas aceites.

Existem, por exemplo, os vários livros excluídos da Bíblia, que formam a compilação conhecida actualmente como Bíblia Apócrifa. Algumas das obras da Apócrifa são reconhecidamente mais recentes, datando do século VI. Outras, contudo, já circulavam no século II, e podem muito bem ter uma pretensão à veracidade tão válida como os próprios Evangelhos originais.

Uma destas obras é o Evangelho de Pedro, que foi localizado pela primeira vez num vale no Nilo superior em 1886, embora já seja mencionado pelo bispo de Antioquia em 180 d. C. De acordo com este Evangelho "apócrifo", José de Arimateia era amigo íntimo de Pôncio Pilatos - o que, a ser verdade, aumenta a possibilidade de uma Crucificação fraudulenta. O Evangelho de Pedro diz também que o túmulo em que Jesus foi sepultado fica num sítio chamado "o jardim de José". E as últimas palavras de Jesus na cruz são particularmente intrigantes: "Poder meu, poder meu, porque me abandonaste?"

Outra obra apócrifa de interesse é o Evangelho da Infância de Jesus Cristo, que não é mais recente do que o século II, sendo possivelmente até mais antigo. Neste livro Jesus é retratado como uma criança brilhante mas eminentemente humana. Demasiado humana, talvez - pois é violento e indisciplinado, com tendência para demonstrações chocantes de mau génio e para exercer os seus poderes de forma bastante irresponsável. Na verdade, em certa ocasião, faz cair morta outra criança que o ofende. Destino semelhante se abate sobre um mentor autocrático. Estes incidentes são indubitavelmente fictícios, mas atestam a forma como na altura Jesus tinha de ser retratado, se queria atingir um estatuto divino entre os seus seguidores.

Para além do comportamento escandaloso de Jesus em criança, existe um fragmento curioso e talvez significativo no Evangelho da Infância. Quando Jesus foi circuncidado, diz-se que uma mulher idosa não identificada se apropriou do seu prepúcio, tendo-o preservado num vaso de alabastro usado para óleo de nardo. E "este é o vaso que Maria, a pecadora, comprou e de onde derramou óleo sobre a cabeça e sobre os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo".

Aqui, portanto, tal como nos Evangelhos aceites, surge uma unção que é obviamente mais do que parece ser - uma unção equiparada a algum ritual significativo. Neste caso, contudo, é claro que a unção foi prevista e preparada muito adiantadamente. E todo o incidente implica uma ligação - embora obscura e sinuosa - entre Madalena e a família de Jesus, muito antes de Jesus embarcar na sua missão, com a idade de trinta anos. É razoável presumir que os pais de Jesus não entregariam o seu prepúcio à primeira mulher que o pedisse - mesmo que não houvesse nada de invulgar num pedido aparentemente tão estranho. A anciã deve portanto ser alguém importante e/ou alguém intimamente relacionado com os pais de Jesus. E a posse subsequente desta relíquia bizarra por Madalena - ou, pelo menos, do seu recipiente - sugere uma relação entre esta e a anciã.

Mais uma vez somos confrontados com vestígios obscuros de algo que foi mais importante do que se crê actualmente.

Certas passagens dos livros da Bíblia Apócrifa - os flagrantes excessos da infância de Jesus, por exemplo - eram sem dúvida embaraçosas para a ortodoxia posterior. Certamente que o seriam para a maioria dos cristãos hoje em dia. Mas é preciso recordar que a Bíblia Apócrifa, tal como os livros aceites do Novo Testamento, foi composta por "adeptos da mensagem", com a intenção de deificar Jesus. Não se pode portanto esperar que contenha seja o que for que possa comprometer seriamente a "mensagem" - o que aconteceria manifestamente com qualquer menção da actividade política de Jesus, ou mais ainda das suas possíveis ambições dinásticas. Para obter evidências sobre questões tão controversas como estas, teríamos de procurar noutro lado.

A Terra Santa no tempo de Jesus albergava um número desconcertante de diferentes grupos, facções, seitas e subseitas judaicas. Nos Evangelhos são citadas apenas dois, os fariseus e os saduceus, e ambos no papel de vilões. Contudo, o papel de vilão seria apropriado apenas para os saduceus, que colaboraram de facto com a administração romana. Os fariseus mantiveram uma firme oposição a Roma e o próprio Jesus, se não era realmente fariseu, agia essencialmente de acordo com a tradição farisaica.

De modo a apelar a uma audiência romanizada, os Evangelhos viram-se obrigados a exonerar Roma e denegrir os judeus. Isto explica por que razão os fariseus tiveram de ser mal representados e deliberadamente estigmatizados, juntamente com os seus conterrâneos genuinamente culpáveis, os saduceus. Mas por que razão não existe nos Evangelhos qualquer menção aos zelotas - esses "combatentes da liberdade" militantes, nacionalistas e revolucionários que, com certeza, uma audiência romana estaria ardentemente disposta a encarar como vilões? Parece não haver qualquer explicação para a sua aparente omissão dos Evangelhos - a menos que Jesus estivesse associado com eles tão intimamente que não fosse possível negar esta associação, apenas disfarçá-la e tentar assim ocultá-la. Tal como argumenta o professor Brandon: "O silêncio dos Evangelhos sobre os zelotas... deve certamente ser indicativo de uma relação entre Jesus e estes patriotas, que os evangelistas preferiram não revelar".

Fosse qual fosse a possível associação de Jesus com os zelotas, não há dúvida de que foi crucificado como um deles. Na verdade, os dois homens alegadamente crucificados com ele são explicitamente descritos como lestoi- a denominação pela qual os Romanos conheciam os zelotas. É duvidoso que o próprio Jesus fosse zelota. No entanto demonstra, em vários momentos ao longo dos Evangelhos, um militarismo agressivo comparável ao deles. Numa passagem embaraçosamente famosa, ele anuncia que não veio "trazer paz, mas espada". No Evangelho de Lucas, instrui os seus seguidores que não possuem espada a comprar uma (Lucas 22:36); e ele próprio verifica e aprova que estão armados depois da refeição da Páscoa (Lucas 22:38). No Quarto Evangelho, Simão Pedro empunha de facto uma espada quando Jesus é preso. É difícil conciliar estas referências com a imagem convencional de um salvador brando e pacifista.

Será que um salvador assim sancionaria o uso de armas, particularmente num dos seus discípulos preferidos, aquele em quem supostamente fundou a sua igreja?

Embora Jesus não fosse ele próprio zelota, os Evangelhos - aparentemente por distracção - traem e revelam a sua ligação com essa facção militante. Existem evidências persuasivas que associam Barrabás a Jesus; e Barrabás também é descrito como lestoi. Tiago, João e Simão Pedro têm todos designações que podem sugerir de forma oblíqua simpatias zelotas, embora talvez não um envolvimento directo. De acordo com as autoridades modernas, o nome Judas Iscariotes deriva de "Judas o Sicarii" - e "sicarii" era outro termo para zelota, intermutável com lestoi. Na verdade os sicarii parecem ter sido uma elite dentro das fileiras dos zelotas, um grupo de assassinos profissionais. Finalmente, existe o discípulo conhecido como Simão. Na versão grega de Marcos, Simão é chamado Kananaios - uma transliteração grega da palavra aramaica para zelota. Na Bíblia do Rei Jaime, a palavra grega é mal traduzida e Simão aparece como "Simão o Canaanita". Mas o Evangelho de Lucas não deixa margem para dúvidas. Simão é claramente identificado como zelota, e até a Bíblia do Rei Jaime o apresenta como "Simão Zelotes". Parece assim ser bastante indisputável que Jesus contava com pelo menos um zelota entre os seus seguidores.

Se a ausência - ou antes, a aparente ausência - dos zelotas nos Evangelhos é intrigante, o mesmo acontece quanto aos essénios. Na Terra Santa do tempo de Jesus, os essénios eram uma seita tão importante como os fariseus e os saduceus, e é inconcebível que Jesus não tivesse tido qualquer contacto com eles. Na verdade, pelo relato que é feito dele, João Baptista parece ter sido essénio: a omissão de qualquer referência aos essénios parece ter sido ditada pelas mesmas considerações que ditaram a omissão de virtualmente todas as referências aos zelotas. Em suma, as ligações de Jesus com os essénios, tal como as suas ligações com os zelotas, eram provavelmente demasiado íntimas e bem conhecidas para serem negadas. Podiam apenas ser disfarçadas e escondidas.

A partir de historiadores e cronistas que escreveram nessa altura, sabe-se que os essénios mantinham comunidades em toda a Terra Santa e, muito possivelmente, também noutros locais. Começaram a surgir por volta de 150 a. C, e usavam o Velho Testamento, mas interpretavam-no mais como alegoria do que como verdade histórica literal. Repudiavam o judaísmo convencional em favor de uma forma de dualismo gnóstico - que parece ter incorporado elementos de adoração ao sol e de pensamento pitagórico. Praticavam a cura e eram conhecidos pela sua perícia em técnicas terapêuticas. Finalmente, eram rigorosamente ascéticos, e distinguiam-se facilmente pelos seus trajes brancos e simples.

A maioria das autoridades modernas no assunto acredita que os famosos Pergaminhos do Mar Morto encontrados em Qumran são essencialmente documentos essénios. E não há dúvida de que a seita de ascetas que vivia em Qumran tinha muito em comum com o pensamento essénio. Tal como os ensinamentos essénios, os Pergaminhos do Mar Morto reflectem uma teologia dualista. Ao mesmo tempo colocam uma grande ênfase na vinda de um Messias - um "ungido" - descendente da linhagem de David. Aderem também a um calendário especial, segundo o qual a Páscoa era celebrada, não a uma sexta-feira, mas sim a uma quarta-feira - o que coincide com a Páscoa do Quarto Evangelho. E, em vários outros aspectos significativos coincidem, quase palavra por palavra, com alguns dos ensinamentos de Jesus. Parece que, no mínimo, Jesus conhecia a comunidade de Qumran e, pelo menos a certo nível, harmonizou os seus ensinamentos com os deles. Um especialista actual sobre os Pergaminhos do Mar Morto acredita que estes "fornecem bases adicionais para acreditar que muitos incidentes [do Novo Testamento] são meramente projecções na história de Jesus daquilo que se esperava do Messias".

Quer a seita de Qumran fosse tecnicamente essénia ou não, parece claro que Jesus - mesmo que não tenha tido uma educação essénia formal - era bem versado no pensamento essénio. Na verdade, muitos dos seus ensinamentos fazem eco dos ensinamentos atribuídos aos essénios. E a sua aptidão para curar sugere igualmente alguma influência essénia. Mas um escrutínio mais atento dos Evangelhos revela que os essénios podem ter figurado de forma ainda mais significativa no percurso de Jesus.

Os essénios eram prontamente identificáveis pelas suas vestes brancas - que, independentemente do que é retratado em pinturas e pelo cinema, eram menos comuns na Terra Santa dessa época do que geralmente se crê. No Evangelho "secreto" de Marcos que foi suprimido, há um traje de linho branco que desempenha um importante papel ritual - e este volta a surgir mais tarde, mesmo na versão autorizada. Se Jesus estava a levar a cabo iniciações de uma escola de mistérios em Betania ou em qualquer outro local, o traje de linho branco sugere que estas iniciações podiam muito bem ser de carácter essénio. E mais, o tema do traje de linho branco volta a surgir mais tarde em todos os quatro Evangelhos. Depois da Crucificação o corpo de Jesus desaparece "miraculosamente" do túmulo, que se descobre estar ocupado pelo menos por uma figura trajada de branco. Em Mateus, é um anjo de "vestido branco como neve" (28:3). Em Marcos é "um mancebo... vestido de uma roupa comprida, branca" (16:5). Lucas diz que eram "dois varões, com vestidos resplandecentes" (24:4), enquanto o Quarto Evangelho fala de "dois anjos vestidos de branco" (20:12). Em dois destes relatos nem sequer é atribuído à figura ou figuras encontradas no túmulo um estatuto sobrenatural. Presumivelmente, estas figuras são perfeitamente mortais - e, contudo, segundo parece, desconhecidas dos discípulos. É certamente razoável supor que são essénios. E dada a aptidão dos essénios para curar, esta suposição torna-se ainda mais credível. Se Jesus, ao ser removido da cruz, ainda estivesse de facto vivo, certamente que seriam necessários os serviços de um curandeiro. Mesmo que estivesse morto, é provável que estivesse presente um curandeiro, embora apenas na remota possibilidade de poder ser útil. E não havia curandeiros mais bem considerados na Terra Santa, nessa época, do que os essénios.

De acordo com o nosso cenário, certos apoiantes de Jesus prepararam uma Crucificação fingida, num terreno particular, com a conivência de Pilatos. Mais especificamente, esta Crucificação teria sido preparada, não pelos "adeptos da mensagem", mas pelos adeptos da linhagem - por outras palavras, familiares directos e /ou aristocratas e/ou membros de um círculo interno.

Estes indivíduos podem ter tido ligações com os essénios ou serem eles próprios essénios. Contudo, este estratagema não teria sido revelado aos "adeptos da mensagem" - os "soldados rasos" da comitiva de Jesus, representados em Simão Pedro.
Ao ser transportado para o túmulo de José de Arimateia, Jesus precisaria de cuidados médicos, razão pela qual estaria presente um curandeiro essénio. E depois, quando se descobriu que o túmulo estava vazio, mais uma vez teria sido necessário um emissário - um emissário desconhecido destes discípulos "soldados rasos". Este emissário teria de tranquilizar os confiantes "adeptos da mensagem", teria de agir como intermediário entre Jesus e os seus seguidores - e de prevenir acusações de roubo ou profanação de sepultura que pudessem ser lançadas contra os Romanos, acusações essas que poderiam ter provocado uma perigosa perturbação cívica.

Quer este cenário seja exacto ou não, parecia-nos bastante claro que Jesus estava tão intimamente associado com os essénios como com os zelotas. À primeira vista isto podia parecer um pouco estranho, pois imagina-se frequentemente que os zelotas e os essénios fossem incompatíveis. Os zelotas eram agressivos, violentos, militaristas, nada avessos ao assassinato e ao terrorismo. Os essénios, em contraste, são frequentemente retratados como distanciados das questões políticas, quietistas, pacifistas e afáveis. No entanto, na realidade, os zelotas contavam com vários essénios nas suas fileiras - pois os zelotas não eram uma seita, mas sim uma facção política. E, como facção política, encontravam apoio não só entre os fariseus anti-romanos, mas também entre os essénios - que conseguiam ser tão agressivamente nacionalistas como qualquer outra pessoa.

Esta associação dos zelotas e dos essénios é especialmente evidente nos escritos de Flavius Josephus, de onde deriva grande parte da informação disponível sobre a Palestina desse período. Joseph ben Matthias nasceu na nobreza judaica em 37 d. C. Quando rebentou a revolta de 66 d. C, foi nomeado governador da Galileia, onde assumiu o comando das forças alinhadas contra os Romanos. Enquanto comandante militar parece ter-se revelado notóriamente inapto, e foi rapidamente capturado pelo imperador romano Vespasiano.

Em consequência, mudou de lado. Assumindo o nome romanizado de Flavius Josephus, tornou-se cidadão romano, divorciou-se da mulher, casou com uma herdeira romana e aceitou luxuosas prendas do imperador - que incluíam um apartamento privado no palácio imperial, bem como terras confiscadas aos judeus na Terra Santa. Por volta da altura da sua morte, em 100 d. C, começaram a surgir as suas inúmeras crónicas do período.

Em A Guerra Judaica, Flavius Josephus faz um relato detalhado da revolta de 66-74 d. C. Na verdade, foi através dele que os historiadores subsequentes obtiveram a maior parte das informações sobre essa desastrosa insurreição, o saque de Jerusalém e a destruição do Templo. E a obra de Josephus contém também o único relato da queda, em 74 d. C, da fortaleza de Masada, situada a sudoeste do Mar Morto.

Tal como Montségur, cerca de mil e duzentos anos mais tarde, Masada tornou-se num símbolo de tenacidade, heroísmo e martírio, em defesa de uma causa perdida. Tal como Montségur, continuou a resistir ao invasor muito depois de praticamente toda a resistência organizada ter cessado. Enquanto o resto da Palestina caía sob o massacre romano, Masada continuou impenetrável. Por fim, em 74 d.C, a posição da fortaleza tornou-se insustentável. Depois de um bombardeamento continuado com maquinaria pesada de cerco, os soldados romanos instalaram uma rampa que os colocou em posição de furar as defesas. Na noite de 15 de Abril, prepararam-se para o ataque. Nessa mesma noite, os novecentos e sessenta homens, mulheres e crianças que se encontravam dentro da fortaleza cometeram suicídio em massa. Quando os soldados romanos arrombaram o portão, na manhã seguinte, encontraram apenas cadáveres entre as chamas.

O próprio Josephus acompanhou as tropas romanas quando entraram na carcaça vazia de Masada, na manhã de 16 de Abril. Afirma ter testemunhado pessoalmente a carnificina. E afirma ter entrevistado três sobreviventes do morticínio - uma mulher e duas crianças que supostamente se terão escondido nas condutas sob a fortaleza, enquanto o resto da guarnição se suicidava. Destes três sobreviventes, Josephus afirma ter obtido um relato detalhado do que sucedera na noite anterior.

Segundo este relato, o comandante da guarnição era um homem chamado Eleazar - uma variante, curiosamente, de Lazarus. E parece ter sido Eleazar que, com a sua eloquência persuasiva e carismática, conduziu os defensores à sua decisão sinistra. Na sua crónica, Josephus repete os discursos de Eleazar, tal como afirma tê-los ouvido da boca dos sobreviventes. E estes discursos são extremamente interessantes. A história diz que Masada foi defendida por militantes zelotas. Josephus usa alternadamente as palavras "zelotas" e "sicarii". E contudo os discursos de Eleazar nem sequer são convencionalmente judaicos. Pelo contrário, são inconfundivelmente essénios, gnósticos e dualistas: Desde que o homem primitivo começou a pensar, as palavras dos nossos antepassados e dos deuses, apoiadas pelas acções e pelo espírito dos nossos avós, têm-nos dito constantemente que é a vida a calamidade para o homem, e não a morte. A morte dá liberdade às nossas almas e deixa-as partir para o seu puro lar, onde não conhecerão nada de tal calamidade; mas enquanto estão confinadas a um corpo mortal e partilham das suas misérias, a bem da verdade estão mortas. Pois a associação do divino com o mortal é muito imprópria. Certamente que a alma pode fazer muito, mesmo enquanto está aprisionada dentro do corpo: faz do corpo o seu próprio órgão dos sentidos, movendo-o invisivelmente e impelindo as suas acções para mais além do que a natureza mortal poderia conseguir. Mas, quando é libertada do peso que a puxa para a terra e paira sobre ela, a alma regressa ao seu lugar, e participa então, na verdade, de um poder abençoado e de uma força absolutamente livre, ficando tão invisível para os olhos humanos como o próprio Deus. Nem mesmo enquanto está no corpo pode ser vista; entra sem ser detectada e parte sem ser vista, tendo uma natureza imperecível, mas causando alteração no corpo; pois tudo o que a alma toca, vive e floresce, e o que ela abandona murcha e morre: tal é a superabundância que tem de imortalidade.

E novamente: São homens de verdadeira coragem aqueles que, encarando esta vida como um serviço que temos de prestar à natureza, passam por ela com relutância e se apressam a libertar as suas almas dos seus corpos; e, mesmo que nenhum infortúnio os pressione ou os leve a partir, o desejo da vida imortal impele-os a informar os amigos de que vão partir.

É extraordinário que nenhum estudioso, tanto quanto sabemos, alguma vez tenha comentado estes discursos, pois levantam várias perguntas provocadoras. Em nenhuma altura, por exemplo, o judaísmo ortodoxo fala de "alma" - muito menos da sua natureza "imortal" e "imperecível". Na verdade, o próprio conceito de uma alma e de imortalidade é estranho à principal corrente da tradição e do pensamento judaico. O mesmo quanto à supremacia do espírito sobre a matéria, a união com Deus na morte, e a condenação da vida como perversa. Estas atitudes derivam, muito inequivocamente, de uma tradição de mistério. São manifestamente gnósticas e dualistas; e, no contexto de Masada, caracteristicamente essénias.

Certas destas atitudes, claro, podem também ser descritas como, em certo sentido, "cristãs". Não necessariamente da forma como essa palavra veio subsequentemente a ser definida, mas como se poderia ter aplicado aos seguidores originais de Jesus - aqueles, por exemplo, que desejavam juntar-se a Lázaro na morte, no Quarto Evangelho. É possível que os defensores de Masada incluíssem alguns adeptos da linhagem de Jesus. Durante a revolta de 66-74 d. C. houve inúmeros "cristãos" que lutaram contra os Romanos, tão vigorosamente como os judeus. Muitos zelotas, na verdade, eram aquilo a que actualmente se chamaria "primeiros cristãos"; e é muito provável que alguns deles estivessem em Masada.

Josephus, claro, não sugere nada do género - embora, mesmo que o tivesse feito, tal informação tivesse sido cortada pelos editores posteriores. Ao mesmo tempo, seria de esperar que Josephus, ao escrever uma história da Palestina durante o século I, fizesse alguma menção a Jesus. É verdade que muitas edições mais recentes da obra de Josephus contêm tais referências; mas estas coincidem com o Jesus da ortodoxia estabelecida, e a maior parte dos estudiosos actuais consideram-nas interpolações fictícias que não são anteriores à época de Constantino.

No entanto, no século XIX, foi descoberta na Rússia uma edição de Josephus que difere de todas as outras. O texto em si mesmo, traduzido para russo antigo, data aproximadamente de 1261. O homem que o transcreveu não era um judeu ortodoxo, pois manteve muitas alusões "pró-cristãs". E contudo Jesus, nesta versão de Josephus, é descrito como humano, como um revolucionário político e como um "rei que não reinou". Diz-se também que ele tinha "uma linha no meio da cabeça à maneira dos nazireanos". Os estudiosos têm gasto muito papel e energia a discutir a possível autenticidade daquilo a que se chama agora o "Josephus Eslavo". Pesando todos os factores, inclinamo-nos para o considerar como mais ou menos genuíno - uma transcrição de um exemplar ou exemplares de Josephus que tenham sobrevivido à destruição dos documentos cristãos levada a cabo por Diocleciano, e que tenham iludido o zelo editorial da ortodoxia, restabelecido no reinado de Constantino. Há várias razões convincentes para esta nossa conclusão.

Por exemplo, se o Josephus Eslavo é uma falsificação, que interesses serviria? A sua descrição de Jesus como um rei dificilmente seria aceitável para a audiência judaica do século XIII. E a forma como retrata Jesus como ser humano, dificilmente agradaria à Cristandade do século XIII. E mais, Origenes, um padre da Igreja que escreveu no princípio do século III, alude a uma versão de Josephus que nega o carácter messiânico de Jesus. É muito possível que esta versão - que pode em tempos ter sido a versão original, autêntica e "aceite" - tenha sido o texto original a partir do qual foi escrito o Josephus Eslavo.

À revolta de 66-74 d. C. seguiu-se uma segunda grande insurreição cerca de sessenta anos mais tarde, entre 132 e 135. Em consequência desta nova agitação, todos os judeus foram oficialmente expulsos de Jerusalém, que se tornou uma cidade romana. Mas, já na altura da primeira revolta, a história tinha começado a tecer um véu sobre os acontecimentos na Terra Santa, e durante dois séculos não existem praticamente quaisquer registos. Na verdade este período não é muito diferente do que sucedeu na Europa, em várias alturas, durante a chamada "Idade das Trevas".

Ainda assim, sabe-se que muitos judeus permaneceram no país, embora fora de Jerusalém. Tal como vários cristãos. E houve mesmo uma seita de judeus, os ebionitas, que, embora aderisse de uma maneira geral à fé judaica, ao mesmo tempo reverenciava Jesus como profeta - embora um profeta mortal.

No entanto, o verdadeiro espírito, tanto do judaísmo como do cristianismo, afastou-se da Terra Santa. A maioria da população judaica da Palestina dispersou-se numa diáspora como a ocorrida cerca de setecentos anos antes, quando Jerusalém caiu nas mãos dos babilónicos. E o cristianismo, da mesma forma, começou a migrar através do globo - para a Ásia Menor, para a Grécia, para Roma, para a Gália, para a Grã-Bretanha, para o Norte de África. De forma pouco surpreendente, começaram a surgir em todo o mundo civilizado relatos contraditórios sobre o sucedido em 33 d. C. ou por volta dessa data. E, apesar dos esforços de Clemente de Alexandria, Ireneu e outros do género, estes relatos - oficialmente rotulados de "heresias" - continuaram a florescer. Alguns derivaram indubitavelmente de algum tipo de conhecimento em primeira mão, preservado tanto pelos judeus devotos como por grupos como os ebionitas, judeus convertidos a uma ou outra forma de cristianismo. Outros relatos são manifestamente baseados em lendas, em rumores, numa amálgama de crenças correntes - tais como as tradições dos mistérios egípcios, helenísticos e mitraicos. Independentemente das suas fontes específicas, causaram grande inquietação nos "adeptos da mensagem", a ortodoxia coalescente que se estava a esforçar por consolidar a sua posição.

A informação disponível sobre as primeiras heresias é escassa. O conhecimento que temos actualmente sobre elas deriva grandemente dos ataques dos seus opositores, o que naturalmente forma um retrato distorcido - como o retrato que poderia emergir da Resistência Francesa, por exemplo, a partir de documentos da Gestapo. Contudo, globalmente, Jesus parece ter sido encarado por estes primeiros "hereges" de duas maneiras possíveis. Para alguns, era um autêntico deus, com poucos ou nenhuns atributos humanos. Para outros era um profeta mortal, não muito diferente de, digamos, Buda - ou, meio milénio mais tarde, Maomé.

Entre os mais importantes destes primeiros heresiarcas encontra-se Valentino, um nativo de Alexandria que passou a parte final da sua vida (136-65 d. C.) em Roma. No seu tempo, Valentinus foi extremamente influente, contando entre os seus seguidores com homens como Ptolomeu. Afirmando possuir um corpo de "ensinamentos secretos" de Jesus, recusava submeter-se à autoridade romana, afirmando que a gnose pessoal tinha precedência sobre qualquer hierarquia externa. Previsivelmente, Valentino e os seus adeptos estavam entre os alvos mais atacados pela ira de Ireneu.
Outro destes alvos era Marcion, um abastado bispo e magnata da navegação, que chegou a Roma por volta de 140 e foi excomungado quatro anos mais tarde. Marcion postulava uma distinção radical entre "lei" e "amor", que associava respectivamente aos Velho e Novo Testamentos; certas destas ideias marcionitas voltaram a surgir mil anos mais tarde, em obras como Perlesvaus. Marcion foi o primeiro escritor a compilar uma lista canónica dos livros bíblicos - que, no seu caso, excluía todo o Velho Testamento. Foi em resposta directa a Marcion que Irenaeus compilou a sua lista canónica, que forneceu a base para a Bíblia tal como a conhecemos hoje.

O terceiro grande heresiarca do período - e, de muitas maneiras, o mais intrigante - era Basilídio, um estudioso de Alexandria que escreveu entre 120e 130d.C. Basilídio era versado nas escrituras hebraicas e nos Evangelhos cristãos. Estava também mergulhado no pensamento egípcio e helenístico. Supõe-se que escreveu nada menos que vinte e quatro comentários aos Evangelhos. Segundo Ireneu, promulgava uma heresia verdadeiramente hedionda. Basilídio afirmava que a Crucificação fora uma fraude, que Jesus não morrera na cruz e que um substituto - Simão Cireneu - tomara o seu lugar. Esta afirmação pode parecer bizarra. E contudo revelou-se extraordinariamente persistente e tenaz. No século VII, o Corão ainda mantinha precisamente o mesmo argumento - que um substituto, tradicionalmente Simão Cireneu, tomara o lugar de Jesus na cruz.

Se houve alguma outra região onde as primeiras heresias mais se enraizaram, foi no Egipto e, mais especificamente, em Alexandria - a cidade mais culta e cosmopolita do mundo nessa época, a segunda maior cidade do Império Romano e repositório de uma desconcertante variedade de fés, ensinamentos e tradições. No rasto das duas revoltas na Judeia, o Egipto provou ser o abrigo mais acessível para refugiados judeus e cristãos, grande número dos quais se acumulou em Alexandria. Não era pois surpreendente que o Egipto produzisse as evidências mais convincentes a favor da nossa hipótese.

Estas estavam contidas nos chamados "Evangelhos Gnósticos" ou, mais correctamente, os Pergaminhos Nag Hammadi.
Em Dezembro de 1945 um camponês egípcio, escavando em busca de solo macio e fértil perto da aldeia de Nag Hammadi, no Egipto Superior, descobriu um pote de barro vermelho. Este continha treze códices - livros ou pergaminhos de papiro - encadernados a couro. Não se apercebendo da magnitude desta descoberta, o camponês e a sua família usaram parte dos códices para atear o lume. Eventualmente, contudo, os restantes acabaram por atrair a atenção dos especialistas; e um deles, contrabandeado para fora do Egipto, foi vendido no mercado negro.

Parte deste códice, que foi adquirido pela Fundação C. G. Jung, provou conter o actualmente famoso Evangelho de Tomé.
Entretanto, o governo egípcio nacionalizou em 1952 o restante da colecção Nag Hammadi. Contudo, só em 1961 foi reunida uma equipa internacional de especialistas para copiar e traduzir todo o material. Em 1972 surgiu o primeiro volume da edição fotográfica. E em 1977 a colecção completa de pergaminhos apareceu pela primeira vez em tradução inglesa.

Os Pergaminhos de Nag Hammadi são uma colecção de textos bíblicos, de carácter essencialmente gnóstico, que datam, ao que parece, dos finais do século IVou princípios do século V- por volta de 400 d. C. Os pergaminhos são cópias, e os originais a partir do qual foram transcritos são muito anteriores.

Alguns deles - por exemplo o Evangelho de Tomé, o Evangelho da Verdade e o Evangelho dos Egípcios - são mencionados pelos primeiros padres da Igreja, como Clemente de Alexandria, Ireneu e Orígenes. Os estudiosos modernos determinaram que parte, se não mesmo a maioria, dos textos contidos nos pergaminhos, não são posteriores a 150 d. C. E pelo menos um deles pode incluir material ainda mais antigo do que os quatro Evangelhos tradicionais do Novo Testamento.

No seu todo, a colecção Nag Hammadi constitui um repositório, de valor incalculável, de antigos documentos cristãos - alguns dos quais podem reclamar uma autoridade igual à dos Evangelhos. E mais, certos destes documentos gozam de uma pretensão única de veracidade. Em primeiro lugar, escaparam à censura e revisão da posterior ortodoxia romana. Em segundo lugar foram originalmente compostos para uma audiência egípcia e não romana, não estando portanto distorcidos ou adaptados para ouvidos romanizados. Finalmente, é muito possível que se baseiem em fontes em primeira mão e/ou testemunhas oculares - relatos orais de judeus em fuga da Terra Santa, por exemplo, talvez até mesmo conhecidos pessoais ou associados de Jesus, que podiam contar a sua história com uma fidelidade histórica que os Evangelhos não se podiam dar ao luxo de manter.

De forma pouco surpreendente, os Pergaminhos Nag Hammadi contêm muitas passagens que são contrárias à ortodoxia e aos "adeptos da mensagem". Num códice sem data, por exemplo, o Segundo Tratado do Grande Seth, Jesus é retratado precisamente como na heresia de Basilídio - a escapar à morte na cruz graças a uma engenhosa substituição. No extracto que se segue, Jesus fala na primeira pessoa:
Não sucumbi a eles como tinham planeado... E não morri na realidade mas em aparência, para não ser por eles envergonhado... Pois a minha morte que eles pensam que aconteceu, [aconteceu] a eles no seu erro e cegueira, uma vez que pregaram outro homem à sua morte... Era outro, seu pai, que bebeu o fel e o vinagre; não era eu. Açoitaram-me com o caniço; era outro, Simão, que carregou a cruz sobre os seus ombros. Foi a outro que colocaram a coroa de espinhos... E eu ria-me da sua ignorância.

Com uma consistência convincente, outras obras da colecção Nag Hammadi testemunham uma amarga e continuada contenda entre Pedro e Madalena - uma contenda que parece reflectir um cisma entre os "adeptos da mensagem" e os adeptos da linhagem. Assim, no Evangelho de Maria, Pedro dirige-se a Madalena da seguinte forma: "Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que a qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que tu conheces mas nós não."

Mais tarde, Pedro pergunta indignadamente aos outros discípulos: "Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente connosco? Devemos mudar de opinião e ouvi-la a ela? Ele preferiu-a a nós?"

E, mais tarde ainda, um dos discípulos responde a Pedro: "Certamente o Salvador a conhece muito bem. Por isso a amou mais do que a nós."

No Evangelho de Filipe as razões para esta contenda parecem ser bastante óbvias. Existe, por exemplo, uma ênfase recorrente na imagem da câmara nupcial. De acordo com o Evangelho de Filipe, "O Senhor fez tudo num mistério, um baptismo, um crisma, uma eucaristia, uma redenção e uma câmara nupcial." É verdade que a câmara nupcial pode, à primeira vista, parecer ser simbólica ou alegórica. Mas o Evangelho de Filipe é mais explícito: "Havia três que caminhavam sempre com o Senhor; Maria sua mãe, a irmã desta e Madalena, a quem chamavam sua companheira." De acordo com um estudioso, a palavra "companheira" deve ser traduzida como "esposa". Existem certamente bases para o fazer, pois o Evangelho de Filipe torna-se ainda mais explícito:
E a companheira do Salvador é Maria Madalena. Mas Cristo amava-a mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la frequentemente na boca. Os demais discípulos ofenderam-se e expressaram desaprovação. Disseram-lhe: "Porque a amas mais do que a todos nós?" O Salvador respondeu e disse-lhes: "Porque não vos amo como a ela?"

O Evangelho de Filipe desenvolve a questão: "Não temam a carne nem a amem. Se a temerem, ela vos dominará. Se a amarem, ela vos devorará e paralisará." Noutro ponto, este desenvolvimento é traduzido em termos concretos: "Grande é o mistério do casamento! Pois sem ele o mundo não existiria. Agora a existência do mundo depende do homem, e a existência do homem depende do casamento". E, perto do final do Evangelho de Filipe, há a seguinte afirmação: "Existe o Filho do homem e existe o filho do Filho do homem. O Senhor é o Filho do homem, e o filho do Filho do homem é aquele que é criado através do Filho do homem."


Fonte: The holy blood and the holy grail. - Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln.

lancelot
lancelot
Membros Convidados
Membros Convidados

Mensagens : 371
Data de inscrição : 19/02/2013
Idade : 48

http://portaisdeluz.forumeiros.com/

Ir para o topo Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty Re: O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por Chacalnegro Qui Fev 21, 2013 8:40 pm

Devo confessar que gostei de relembrar esta passagem. Já li esta obra há alguns anos. Na altura devorei os dois volumes em 5 dias tal foi o entusiasmo. Em certa medida concordo com o que é dito nesta parte. Partilho da ideia de que Jesus teria uma origem nobre como podemos ver pelas genealogias apresentadas nos Evengelhos canónicos. Não tanto pela justificação que é dada para esta ascendência, mas pelo trabalho genealógico que alguém teve a escrevê-la, alguém que terá sido pago para o fazer. Alguns ramos familiares poderão ser falsos, Jesus pode não ser realmente descendente do rei David. Mas isso é irrelevante, seria provavelmente oriundo de uma família aristocrática. Se fizermos uma analogia com os tempos actuais? O que é que um novo rico faz quando quer poder e influência (para além de se meter na alta finança), procura uma rede clientelar de destaque social e procura uma genealogia que lhe convenha. O caso não seria inédito à época, porque o famoso Herodes, o Grande, mandou forjar a sua genealogia, porque não era judeu, mas nabateu. Outro caso, o de Aristóbulo, sumo-sacerdote de Israel aos 17 anos, posto no Templo pelo referido Herodes, também aí chegou depois de inventada uma genealogia nobre.
No entanto, creio que a mensagem messiânica de Jesus, apesar de não trazer nada de inovador no Mediterrâneo Oriental, era-o bastante na Judeia. Na minha opinião, acho que parte dessa mensagem começou a fermentar em Alexandria, na sua infância e foi sedimentada igualmente em Alexandria depois da sua morte.

O resto da obra, lamento, mas é um gigante com pés de barro, hoje desmitificado e alguns dos factos que lhe dão corpo foram manifestamente forjados.
Chacalnegro
Chacalnegro
Gestão do Fórum
Gestão do Fórum

Mensagens : 185
Data de inscrição : 14/02/2013
Idade : 46

Ir para o topo Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty Re: O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por anokidas Sex Fev 22, 2013 1:30 am

Obrigado Lancelot gostei muito de ler mas realmente não sei até que ponto podemos acreditar nestas afirmações categóricas.
Desse vácuo do evangelho de Marcos nasceu muitas especulações, é certo, acredito que até algumas possam ser verdadeiras como por exemplo o amor que sentia por Madalena.
E mesmo que sejam verdadeiras, são justificativas que não conseguem derrubar a igreja e a religião Católica.
anokidas
anokidas
Membros Convidados
Membros Convidados

Mensagens : 359
Data de inscrição : 19/02/2013
Localização : Portugal

Ir para o topo Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty Re: O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por lancelot Sex Fev 22, 2013 11:11 am

Não coloco de forma alguma em causa, a veracidade ou não deste livro. Assim como da mesma forma não posso garantir a veracidade da Bíblia. Penso que esta teoria é de salutar, nao pelo facto si de saber quem foi ou nao foi Jesus, mas pelo facto que abala o poderio da igreja católica.

Esta obra, embora com pés de barro, tem muitos argumentos históricos. Esses argumentos, poderão ou nao alertar-nos, para a cegueira imposta pela igreja católica.

Opiniao pessoal.

lancelot
lancelot
Membros Convidados
Membros Convidados

Mensagens : 371
Data de inscrição : 19/02/2013
Idade : 48

http://portaisdeluz.forumeiros.com/

Ir para o topo Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty Re: O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por Chacalnegro Sex Fev 22, 2013 11:56 am

lancelot escreveu:Não coloco de forma alguma em causa, a veracidade ou não deste livro. Assim como da mesma forma não posso garantir a veracidade da Bíblia. Penso que esta teoria é de salutar, nao pelo facto si de saber quem foi ou nao foi Jesus, mas pelo facto que abala o poderio da igreja católica.

Esta obra, embora com pés de barro, tem muitos argumentos históricos. Esses argumentos, poderão ou nao alertar-nos, para a cegueira imposta pela igreja católica.

Opiniao pessoal.


Pois lancelot, mas a cegueira imposta pela Igreja Católica é tão grande como a cegueira imposta por qualquer corporação religiosa. Se recuarmos um pouco, vemos que é um tipo de cegueira comum a todas as confissões cristãs da actualidade. Por esse motivo incluí no fórum os artigos sobre os concilios de Niceia e Calcedonia. A única diferença é que a Igreja Católica estabeleceu um poderio quase imperial no Ocidente, durante séculos. Mas isso não depende essencialmente da condição divina ou não divina de Jesus, depende do mapa político da Europa durante a Idade Média. Trata-se ainda do poder que exerce a maioria sobre a minoria. Se, durante o concílio de Niceia os arianos tivessem ganho o debate, durante 1000 anos teríamos uma igreja ariana e, consequentemente o trinitarismo estaria condenado a todo o tipo de vexações.
A questão de Maria Madalena é um facto completamente acessório em toda a história do Crisitanismo. Primeiro, porque o "sagrado feminino" nunca existiu no judaísmo nem em nenhuma civilização semita, portanto ela estaria sempre relegada para segundo plano como geradora dos filhos de Jesus. Por outro lado, a sua importância parece ser muito relativa se tivermos em conta os apócrifos. Aparece referida em quantos, um, dois? Há largas dezenas deles...
Chacalnegro
Chacalnegro
Gestão do Fórum
Gestão do Fórum

Mensagens : 185
Data de inscrição : 14/02/2013
Idade : 46

Ir para o topo Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty Re: O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por lancelot Sex Fev 22, 2013 12:27 pm

Meu caro, assino em baixo.

Colocas-te em palavras o meu turbilhão de ideias.
lancelot
lancelot
Membros Convidados
Membros Convidados

Mensagens : 371
Data de inscrição : 19/02/2013
Idade : 48

http://portaisdeluz.forumeiros.com/

Ir para o topo Ir para baixo

O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração? Empty Re: O segredo que a igreja proibiu? Teoria da conspiração?

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos