O Exorcismo Islâmico

Tendo o Islão uma base comum às restantes religiões monoteístas da bacia do Mediterrâneo, naturalmente partilha de semelhanças teológicas e escatológicas com o Judaísmo e com o Cristianismo. Assim, como seria de prever, o exorcismo também é uma prática frequente entre os muçulmanos, variando somente o ritual, que apesar de pouco variável, não está codificado como o ritual católico.

Devido ao vazio que existe na jurisprudência religiosa, sempre foi visto com desconfiaça pelos sectores mais conservadores. Por conseguinte, não consta nenhuma referência à sua prática no Alcorão ou na Sunna. Existem sim, relatos em várias biografias do Profeta que dizem ter ele próprio executado alguns e aconselhado determinado tipo de oração, nomeadamente o capítulo 17:82 do Alcorão.

Fonte: super.abril.com.br/religiao/versos-anti-satanicos-447678.shtml

As entidades responsáveis pela possessão são, grosso modo, as mesmas presentes na demonologia cristã/católica e judaica: os demónios que apresentam uma génese diferente dos demónios da teologia cristã. Não foram anjos rebelados tornados demónios, mas uma categoria de entidades que apenas surgem no monoteísmo islâmico: os jin جن, que podemos traduzir por génios. Os génios pertencem de crenças pré-islâmicas e passaram ao Islão como parte integrante da religião, na medida em que fazem parte do mundo espiritual reconhecido por ela. Fazem parte de uma categoria de espíritos semelhantes aos anjos, mas numa condição inferior e deles variando quanto à matéria de que são constituídos. Os anjos foram criados de luz e os génios de ar e fogo.

Ora, os demónios não são mais do que génios expulsos do Paraíso devido à rebeldia do seu líder Ibliss que recusou curvar-se perante Adão, quando este foi criado por Deus. A partir deste momento, Ibliss outrora o mais poderoso dos génios passou a chamar-se Sahytan (Satã = Satanás) e tornou-se num espírito errante e atormentado que procura a todo o custo explorar as fraquezas humanas e lançar a Humanidade na perdição, por isso é conhecido por "Inimigo do Homem". Os seus companheiros de desgraça ficaram com a designação de "abaliss", em memória do nome do mestre, termo que em diante significa diabo/demónio.

A possessão acontece em grande medida, por acção destas criaturas podendo ser provocada das mais variadas formas, sendo a mais comum o uso de magia negra mas, mais importante, pelo esquecimento das obrigações para com Deus.

Qualquer pessoa idónea e com uma fé sólida pode fazer um exorcismo (a que se dá o nome de ruqaa), mas o mais frequente é ser realizado pelo imãm da comunidade onde pertence o possesso. Não há necessidade de burocracia nem consulta da hierarquia religiosa (que não existe no Islão, como a conhecemos para a Igreja Católica) e processa-se de forma relativamente simples do ponto de vista cerimonial.
Geralmente é dita uma ou várias orações para obrigar a entidade a manifestar-se a qual, após isso, é interrogada sobre a sua identidade e quais os motivos da possessão. Depois do interrogatório, é forçada a recitar a "profissão de fé", coisa que despoleta na maior parte dos casos reacções violentas. Após isto, a entidade é obrigada a abandonar o corpo que estava a habitar com o juramento de nunca mais voltar.

Como fica dito, o ritual não é inflexível embora seja bastante frequente a recitação da sura al-Baqra (2º capítulo do Alcorão, que é o mais longo) e o uso de vinagre, que é aspergido amiúde no possesso.


Aqui fica um dos mais famosos vídeos de um exorcismo islâmico

E assim cai por terra a teoria de que só os padres católicos podem exorcizar.

Salomé escreveu:E assim cai por terra a teoria de que só os padres católicos podem exorcizar.

Pois há aqui duas questões essenciais.

1º Sendo a Igreja Católica hegemónica sobre as restantes religiões detinha, de facto, o monopólio dos exorcismos. Logo, na assumpção de ser a única verdadeira, os seus exorcismos eram os únicos verdadeiros.

2º Hoje não é assim, temos exorcistas "famosos" como Gabrielle Amorth e, sobretudo, José Fortea a admitir que as outras religiões também praticam exorcismos válidos desde que sejam feitos sob a invocação de Deus e o exorcista seja alguém de fé irrepreensível. Na verdade só vêm admitir uma coisa que sempre foi assim. Sempre se fizeram exorcismos com sucesso em todas as religiões e sería ridículo fechar os olhos a isso. Em grande medida, para isso contribuiu o concílio Vaticano II e várias décadas de ecumenismo.